sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A RELAÇÃO ENTRE A ESTÉTICA E O CONFORTO DOS CALÇADOS



A moda é um exemplo de imposição do belo. Através de signos estéticos presentes no objeto, o mercado deseja atingir a sensibilidade do público com vitrines atraentes para despertar a atenção do consumidor e estimular a compra. O valor da estética tem muita importância para o ser humano e quando se trata de sapatos, o público feminino é o mais atingido. Mas qual seria a explicação?
É a sedução que eles fazem. As mulheres ficam encantadas, seduzidas e apaixonadas por um par de sapatos novos, para elas não é só um acessório, elas o endeusam, mesmo que tenham que se sacrificar. Compram modelos lindos e caros, muitas vezes quanto mais bonito o sapato, menos confortável, mas ainda assim insistem em usá-los.
Segundo uma pesquisa mundial, 80% das mulheres compram sapato pela beleza e deixam o conforto de lado.
Conforme a opinião de leitores para a revista Época on line, homens não usariam sapatos que machucam só pela beleza, afirmando até, que isso seria masoquismo. Os homens procuram o conforto na hora da compra e as mulheres procuram a beleza.
Em uma entrevista para a revista Vogue inglesa, o designer francês Christian Louboutin, considerado um dos maiores designers de sapatos, acredita que as mulheres gostam da sensação de desconforto ao usar salto alto, porque maior parte das mulheres usa salto alto, mesmo que sejam dolorosos, pois existe elemento de sedução, o que não acontece com os homens. Os sapatos refletem um pouco da personalidade delas e o incômodo é contrabalanceado com um “algo mais”, que está relacionado ao desejo. A mulher se sente mais confiante, poderosa e consciente do seu próprio corpo, o que recompensa o desconforto.
Sofrer para ficar elegante parece loucura, mas há mulheres que são capazes de suportar horas de dor no pé e tornozelos para ficar em cima de um salto alto. Mas com isso, elas põem em risco a sua saúde. Salto alto deve ser usado com cautela.
Para a ortopedista Cibele Réssio, especialista em pés e tornozelos da Unifesp, com os modelos existentes no mercado, quem quiser usar salto alto irá sempre sentir dor. Uma análise realizada por ela com mais de 700 pés femininos em São Paulo, usando um aparelho que mede a pressão na planta do pé, chegou a conclusão de que todo salto alto, independente do tamanho ou formato, modifica o modo como as pessoas pisam no chão e se equilibra. Quanto maior o salto, menor a superfície de apoio, fazendo com que o peso se concentre nos dedos.
Cibele também realizou um estudo com 400 pessoas para saber quanto tempo uma mulher de salto alto leva para começar a sentir dor. Os resultados foram:
Na hora → 20%
Duas horas depois → 40%
Quatro horas depois → 30%
Nem depois de quatro horas → 10%
Para o ortopedista Henrique Sodré, professor livre-docente da Unifesp, os modelos que mais se adaptam aos pés são aqueles com solado plano, como chinelos, e entre os sapatos fechados, os tênis tem o maior conforto pelos solados flexíveis e dos sistemas de amortecimento.
Uma situação comum entre as mulheres é a adequação da altura dos saltos. Cada tipo de salto provoca um tipo de acomodação dos pés. Sapatos sem salto ou sapatilhas, provoca um pequeno desiquilíbrio do peso do corpo, com um peso um pouco maior sobre os calcanhares, mas não chega a resultar em um desconforto. Salto de 2 cm são considerados ideais, pois proporcionam conforto e melhor equilíbrio, o peso do corpo tem uma distribuição igual entre as partes traseira e dianteira dos pés. Salto de 4 cm são bons para quem tem pés cavados, mas para a maioria das pessoas, a distribuição do peso é inversa à sapatilha, com 57% do peso sobre o antepé. Saltos de 6 cm prejudicam a funcionalidade dos pés, 75% do peso recaem sobre o antepé. Os saltos com mais de 6 cm aumentam as chances de surgimento de problemas que será exposto a seguir.
Os problemas seguintes são os mais frequentes entre as mulheres que utilizam salto alto, segundo entidades de saúde norte-americanas, a postura alterada aumenta 26% da pressão sobre os joelhos, causando osteoartrite, mais conhecida como artrose, uma doença crônica das articulações caracterizada pela degeneração da cartilagem e do osso subcondral, que pode causar dor articular e rigidez e redução da funcionalidade articular. A postura também é modificada, pois empurram o centro da massa corporal para frente, desalinhando quadris e coluna. Mudam a pressão para frente, conforme a altura do sapato, saltos de 10 cm tem aumento de mais 76%, saltos com 6,5 cm tem aumento de mais 57% e saltos com 2,5 cm mais 22% da pressão. Nas panturrilhas os músculos se contraem, ajustando-se ao ângulo dos saltos, podendo encurtar-se e estreitar-se. Sapatos estreitos e salto alto cria o estreitamento dos tecidos ao redor do nervo existente entre o 3° e 4° dedos provocando dores e dormência, chamado de Neuroma de Morton. No Tendão de Aquiles, quando a frente do pé movimenta-se para baixo em relação ao salto, ele é encurtado, quanto mais alto o salto, mais se encurta o tendão, provocando dores. Para quem tem antecedência congênita, o bico fino pode provocar joanete na base do dedão, provocando dores. Calçado estreito força a curvatura dos dedos menores da junta do meio e eventualmente os músculos do segundo, terceiro e quarto dedos podem ficar incapacitados de contrair-se, mesmo quando não apertados pelos sapatos. As rígidas alças dos saltos podem irritar o calcanhar e provocar calosidade. A redistribuição do peso do corpo é forçada, causando dores nas juntas. Na planta do pé, prejudica a circulação e potencializa a tendência a varizes.
Segundo a Sociedade Americana de Ortopedia, cerca de três bilhões de dólares são gastos anualmente em cirurgias nos pés, causada por salto alto.
Para as pessoas que já se habituaram ao uso de salto alto, o músculo da parte de trás da perna ficam mais curtos e os da frente, mais longo, por isso o desconforto na hora de usar sapato de sola plana. O mais indicado pelos médicos é fazer um rodízio entre saltos mais altos e saltos mais baixos durante a semana para que os pés não se acostumem com um tipo específico de salto.
Para os especialistas, os mais indicados são saltos de até 4 cm, embora o resultado estético não seja o mesmo, a mudança vale a pena pela saúde e o bem-estar. Os sapatos plataforma também são indicados por terem salto alto em toda sua extensão da sola, distribuindo melhor o peso. Também é preciso alongar os músculos da panturrilha e coxa periodicamente.
Para os sapatos de bico fino, o ideal é trocá-los por salto e bico quadrados, por serem mais estáveis e confortáveis.
Calçados fechados de borracha e outros materiais sintéticos, facilitam o aparecimento de micose, para isso o sapato deve ser arejado e não deve ser usado por dois dias seguidos.
Calçado curto demais comprime o pé, para que isso não aconteça, é necessário que o sapato tenha uma folga suficiente para que os dedos não fiquem apertados, sem exagerar, pois havendo folga maior que o necessário, pode causar bolhas e calos aos pés.
Pensando no bem estar dos pés, algumas fábricas de calçados passaram a investir no conforto, lançando as chamadas “linha Confort”, com sapatos anatômicos. Mas ainda há uma resistência por parte dos consumidores por não acharem os modelos belos e atraentes, embora essas empresas estejam começando a investir em design mais moderno. De fato, ainda há um longo caminho a percorrer entre a ergonomia e o design, pois nem sempre o que é mais saudável, ergonômico e confortável para o pé é o mais atrativo ou bonito mediante os padrões de moda estabelecidos hoje em dia.

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