terça-feira, 16 de novembro de 2010

ANÁLISE ESTÉTICA DO DESFILE DE RONALDO FRAGA VERÃO/2011 A PARTIR DA TEORIA KANTIANA DA BELEZA

http://estilo.uol.com.br/ultnot/multi/2010/06/14/0402983964C8A913A6.jhtm?spfw-verao-2011-ronaldo-fraga-0402983964C8A913A6

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1282745-7822-DESFILE+PRIMAVERAVERAO+DE+RONALDO+FRAGA+COMPACTO,00.html

http://www.youtube.com/watch?v=SEalATAb4oU

O Brasil bordado à mão: Turista Aprendiz

     O desfile de Ronaldo Fraga Verão/2011, teve como inspiração a viagem etnográfica do escritor Mário de Andrade, chamado de "Turista Aprendiz".
     Para entender a coleção e todo o desfile, é preciso conhecer Mário de Andrade e sua obra, para se ter o juízo do conhecimento e analisar o conceito.
     Mário de Andrade é um dos principais nomes do Modernismo brasileiro e um dos mais importantes autores literários do país, que teve como objetivo, buscar uma nova expressão artística com um olhar mais voltado para a cultura própria brasileira. No final da década de 20, faz uma viagem etnográfica pelo Norte e Nordeste, que lhe rende diários textuais de imagens ( unindo legendas às fotografias). Ele registra diariamente seu cotidiano e algumas reflexões de caráter etnográfico. Recolhe manifestações artística e culturais, faz registro de música, danças e festas. Sua pesquisa tem preocupação com as relações de produção e com as classes sociais, contato com as reais condições de vida e produção da população brasileira, com reflexões sociológiscas e políticas.
     Ronaldo Fraga diz que seu sonho era fazer essa mesma viagem, mas os compromissos não lhe permite, mas percebe que já registrava experiências como um "Turista Aprendiz" através de seu trabalho com coperativas e grupos de artesão de Norte ao Sul do Brasil.
     A coleção é resultado de um projeto desenvolvido junto a um grupo de bordadeiras de Pernambuco.
     O cenário feito por Leo Santana, com coordenação técnica de Clarissa Neves e Paulo Waisberg, todo composto de desenhos de renda-renascença nos tons amarelo claro, verde, azul e branco.
     Nas roupas, diferentes técnicas de bordados são usadas: ponto-cheio, matames, ponto-sombra, renda-renascença.
     Ele leva também os desenhos da renda-renascenças para a indústria no tule e jacquard, que de longe tem esfeito de renda. 
     A cultura pernambucana aparece nas costuras, estampas e bordados em linho, seda, algodão orgânico, e jacquard.
     Não há muita cor no desfile, o branco se combinacom os neutros, tons em pastéis de verde, rosa, azul e amarelo dominam a passarela, passando para o azul e preto.
    Vestidos suaves, curtos, artesanais, alguns com modelagens amplas, outros acinturados, amarrações, batas, mangas bufantes, mini shorts balonês, rendas, babados e mais babados, e uma transparência suave, deixam a coleção ainda mais romântica.
     No masculino, bermudas e calças são afuniladas na barra, camisas amplas e um composé de estampas e xadrezes num mesmo look.
     O styling teve a assinatura de Daniel Ueda.
     O make de Marcos Costa, deixou as modelos com o bronzeado nordestino, completando o look com perucas brancas de plástico e óculos escuros.
     A trilha sonora, retrata ainda mais o tema abordado. Inicialmente há um instrumental, com citações referentes à história de Caramuru com a índia Paraguassu, com músicas de Luiz Gonzaga, fazendo uma passagem de "Asa Branca" para "Assum Preto" ( com a qual termina o desfile), mas esta com uma mudança de arranjo e interpretação.
     Emocionando o espectador com toda a identidade brasileira apresentada. E conseguindo transmitir através das roupas, o trabalho e história de um povo, com suas histórias, amor, desejos, através do bordado. Quando se ve esse espetáculo, o público é arrebatado por sensações e emoções, no qual ele se envolve com a apresentação em todo momento, e a impressão que se tem é de que as roupas falam.
     Ronaldo apresenta a beleza e riqueza do Brasil, destaca o Nordeste através das rendeiras de Pernambuco e Paraíba, com um trabalho rico em detalhes e numa coleção 100% bordada à mão, colocando em evidência o ofício do bordado no Brasil. 
     Mas em um desfile de moda, há uma subjetividade, a experiência pode ser agradável ou não e pode também não ser compreendida. O expectador pode assistir ao desfile, somente com a visão de consumir e analisar o produto, a sensação causada e o julgamento é pessoal, ele não necessita que haja uma concordância geral.
      O juízo estético, também depende da sensação experimentada pelo expectador, mas livre de qualquer conceito, apenas pela experiência apresentada através das reações do observador, mas embora não haja conceito, existe uma concordância do público.
     E como pode algo tão subjetivo que é o gosto, ter também validade geral?
     O desfile de moda, já desperta atenção, curiosidade e interesse, e quando Ronaldo Fraga apresenta sua coleção, se importa em mostrar algo belo e agradável, isso acaba gerando um consenso geral de que o que foi apresentado, realmente foi belo e agradável.
     Outro paradoxo é a relação entre o juízo estético e sobre o agradável. Quando uma pessoa vai ao desfile de Ronaldo Fraga, já o conhece e sabe a relação importante do estilista e quão ele é respeitado no mundo da moda, assiste ao espetáculo com um interesse de satisfação, mas quando se contempla o espetáculo, o prazer e a sensação causada diante dessa contemplação se torna desinteressado.
     Segundo a teoria kantiana, a satisfação do juízo do gosto é desinteressada. Avaliando o objeto roupa, ele sim se comporta como um consumo interessado, se torna objeto de prazer, mas a sensação do prazer experimentado diante do que lhe é apresentado, é agratuito, portanto, pode ser considerado beleleza estética.

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